
DÓI SER GENTE.
Dói ser gente.
Dói estar montado na corcova do mundo.
Dói, meu rapaz!
Já contei-lhe da vez que me tornei num bruto?
Ah, meu rapaz! Foi um desastre!
Minha brutalidade não ultrapassou o primeiro rosto
a me fitar sem esperança.
O problema são as lágrimas, meu rapaz,
são essas inoportunas que, anacrônicas,
descompõem-me frente aos meus ordenanças;
E eu sempre as dissimulo,
mas nisto é que consiste a descompostura...
Se ao menos o mundo fosse um puro sangue!
Mas é uma corcova, meu rapaz,
é uma corcova dum camelo morto de sede.
Aquele meu camarada do qual esqueci o nome...
Acho que cultivava batatas ou rabanetes (não sei bem).
Pois bem, meu rapaz,
hoje ele pesca camarões.
Uma vez eu lhe perguntei se era feliz;
não me falta nada, disse ele
por detrás dum nariz avermelhado.
E havia tanto sal em seu olhar
que pus os óculos.
06/jun. rzk.a
Nenhum comentário:
Postar um comentário